História do Arroz

 

     Quando o Município realiza a I FESTA DO ARROZ (14/04/014) parece-me oportuno aqui trazer este tema, nomeadamente a sua realidade no tempo em Montargil.

 

 

 

     Desde quando existe o arroz? São várias as referências, todas apontando milhares de anos, certeza porém que se trata de um dos mais antigos alimentos da humanidade.       Tempos houve em que foi mesmo um luxo, e por exemplo-o grego Dioscórides considera-o um medicamento eficaz para as doenças intestinais, enquanto Horácio, Plínio e Columela Latino recomendam o seu uso como chá de  ervas. Terá sido entretanto Alexandre que o lança como alimento.

Ao que nos dizem no entanto, é nos anos 30 do século passado que em Portugal são criadas condições para o seu cultivo. Sendo que no momento a sua produção se aproxima da média da União Europeia.

As áreas de cultivo têm vindo a diminuir e disso Montargil é um exemplo flagrante, a sua produtividade é aceitável, não obstante o fator tecnológico ter  as suas limitações.

 

 

1953 CICLO DO ARROZ             JÚLIO POMAR

Claro que também existiu uma fotografia neo-realista em Portugal (dentro e fora dos Salões), mas duas das suas principais características são: 1 - ser de autores anónimos ou desconhecidos; 2 - nunca ter sido estudada ou sequer vista.

 


 
 
Neste caso - fotografias realizadas durante visitas à faina do arroz guiadas por Alves Redol e frequentadas por vários artistas plásticos, que deram origem a obras que foram recebendo o título comum "Ciclo do arroz" - há a possibilidade de serem da autoria de Cipriano Dourado e/ou Lima de Freitas.

 

E em

    MONTARGIL

como foi?

 

     Em tempos, Montargil foi uma terra de grande produção de arroz. Como alguém nos dizia na sua linguagem popular, por aqui produziu-se arroz” para diante,” sendo que hoje as terras onde se fizeram grandes searas estão metidas a eucaliptos e a salgueiros. Certo que se as mesmas fossem limpas continuariam a produzir como dantes, mas eles (os patrões), dizem que não dá a conta pois as jornas estão muitos caras” e adespois” não querem pagar uma Caixa…Depois, há certos sítios onde a máquina não vai.

     Na Terra Preta, onde em qualquer lugar se fazia arroz, havia um valente arrozal; no Vale das Abertas, na Ribeira da Erra à Ponte do Cansado eram searas de arroz por todo o lado; no Arrão de Cima e no Arrão de Baixo - eram sítios de boa produção.

     Quanto ao respetivo ciclo, a primeira coisa que se fazia quando o terreno tinha muita água, era esgotá-la e começar a fazer combros e, logo que se podia, começar a cavar a terra. Os "combros", que são os "altos" que delimitam o "canteiro", davam mais ou menos pelo joelho.

     Cavada que estava a terra, semeava-se então ou plantava-se o arroz, consoante se tratasse de semente ou já de planta. Deixava-se crescer vinte a trinta centímetros para fora de água e mondava-se, isto é, tirava-se a milhã (a erva) que se ia colocando em cima dos "combros”. Deixava-se crescer, espigava e depois ceifava-se. Era então colocado na "eira" e quando estava bem seco, era "malhado". Chegávamos a ser quatro, e por vezes seis, três de cada lado, dizia-me um antigo malhador. Refira-se que a "monda" era feita só por mulheres.

     Depois de malhado, o grão de arroz era levado para a descasca que se fazia nos "moinhos de água". Só no Carvalhoso havia sete ou oito- do Júlio Branco, do Chico de Cavaleiros e de outros… Explicam-me então que havia "azenhas" e "moinhos de água". As azenhas tinham umas palas grandes e trabalhava ao contrário, enquanto os "moinhos de água" tinham um "cubo" por baixo, e essa água é que fazia trabalhar as "mós".

     Entretanto e feita uma seara de arroz, continuam a explicar-me, precisávamos de dois ou três alqueires para comer, levávamos o restante para descascar (depois de tirar também o destinado a semente no ano seguinte) ficando o moleiro com a maquia, (era o nosso pagamento) que depois vendia para fazer dinheiro.

     Havia entretanto quem fazia searas em terrenos doutros. Neste caso e por exemplo, o contrato era ao terço (a medir na "eira") em que o dono do terreno ficava com uma das partes.

     Refira-se, ainda, que o arroz mais grado (grosso) era o escolhido para a semente.

 

Outras informações:

Quando alguns terrenos não davam para lavrar, contratava-se um grupo de homens e de mulheres para a cavar. De seguida faziam-se canteiros e “ingomedrava-se”(a) o terreno. Para o endireitar (o terreno) normalmente gradava-se  o mesmo de maneira que ficasse em condições de se semear/ou plantar o arroz. O bom terreno para esta cultura é o de terra forte, que se preparava a em Fevereiro ou Março e se semeava em Abril.

A ceifa do arroz era por altura do “Samiguel” (S.Miguel), e não era feita de maneira igual à do trigo. Não se ceifava “à margem”(b) mas sim “a eito”(c) com duas ou três pessoas em cada canteiro. Depois atava-se e carregava-se num carro para o levar para a eira, onde ao chegar se faziam” fascais”(d),para a seguir se malhar(com moeiras).media-se e ensacava-se.

Glosário

a)        o mesmo que fazer combros

b)        junto à margem, atrás uns dos outros

c)        espalhados pelo canteiro

d)        o mesmo que “montão

 

 

 

Nesse tempo havia muitas searas de arroz?

R: Havia, havia muitas.

Que trajo a mulher usava nesse trabalho?

R: A mesma coisa que para outros trabalhos, para arrancar mato, para a ceifa.

E os homens?

R: Esses usavam calças velhas, atadas cá em baixo, ou cortavam-se.

Eram mais os homens ou as mulheres que trabalhavam no arroz?

R: Bem, os homens cavavam. Depois a gente ia “enxurdar a água”, galgávamos para dentro dos canteiros, cheios de água, íamos com enxadas assim a bandear a água, e depôs vinham os homens, com um “sementeiro” aos ombros, semeando à mão, a “lanço”. Se não era semeado mas  plantado, um pouco mais tarde, as mulheres iam ao “viveiro” buscar a planta colocando normalmente dois ou três pés em cada sítio(extrato de uma conversa com a senhora Joaquina  Fidalga).

 

                                                                        Lino Mendes (Grupo de Promoção S.C.Montargil)