A Música
A Música em Montargil
A Fundação da primeira “Banda de Música de Montargil”, tanto quanto sabemos remota a Junho de 1881 e foi seu regente Rufo Freire de Andrade. Deste primeiro ciclo das Bandas de Música de Montargil apenas sabemos que quando terminou a guerra de 1914/1918 a Banda estava iniciativa, tendo sido o maestro Galamba e o maestro Sá os seus últimos regentes.
Entretanto em 1919 (a guerra terminara em Novembro de 1918) mestre Jaime que havia ficado prisioneiro dos alemães, regressou tendo-se a Banda organizado e esperá-lo.
Começa a era Manuel Alves do Carmo e foi com este homem que o grupo Musical Montargilense era este o seu nome embora fosse mais conhecido pela designação de “ A MÚSICA”, viveu anos de prestígio.
Mas o tempo não perdoa Alves do Carmo devido à sua idade e saúde vê-se obrigado a abandonar. Vive-se um vazio de vinte anos com algumas tentativas de arranque com o Padre Pereira a assumir a regência mas sem resultados práticos.
Entretanto em 1975 com poucos músicos e sem instrumental o grupo de promoção cria a sua Escola de Música com base instrumental ORFF e nas vozes. Mas a Banda não se conseguia fazer reviver até que um dia Jorge Fernandes, então presidente da Junta de Freguesia e José Amante, Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor na altura, propõem ao Grupo de Promoção a reconstituição da Banda. Assim em 6 de Janeiro de 1989 José Maria Bernardo dá na Casa do Povo a sua primeira aula. Era o início da terceira fase.
Reina o entusiasmo e recordamos a maneira como os músicos, ainda sem fardamento, foram aplaudidos no final da primeira procissão em que participaram.
O Maestro José Maria Bernardo faz obra, mas problemas de saúde, levam-no a abandonar o projecto. É substituído pelo Maestro José Pedro Salgueiro que se mantém à frente da Banda de Janeiro de 1994 a Junho de 1999. Veio para regente da “Banda da Escola de Música de Montargil” o Maestro Luís de Castro que nos viria a deixar em Fevereiro de 2002 por motivos da sua vida particular – pessoal.
Desde essa altura passou a ser dirigida pelo Prof. Paulo Temeroso, jovem músico, com grande futuro, que emigrou para a Holanda afim de continuar a aprofundar os seus conhecimentos, teve que nos deixar em Julho de 2003.
De então para cá a Banda da Escola de Música de Montargil está a ser dirigida pelo regente Marco Alves, também ele jovem músico com grande futuro e com o qual contamos para continuar esta obra de valorização dos nossos jovens.
MEMÓRIAS
Um momento alto na era Alves do Carmo, foi a deslocação a Lisboa, à “Festa dos Centenários” que levou a nossa Banda à capital de 14 a 17 de Maio de 1947. Foi a deslocação que antecedeu a minha integração na mesma, sendo que nesse mesmo ano já fui tocar à festa da Erra, em 31/7 e 1 e 2/ 8, sendo o transporte feito em quatro carroças e um carro de parelha Recorda-me bem, até porque a que me transportava tombou para a valeta à saída do Couço.
Mas voltemos à deslocação a Lisboa, onde também fui. De Montargil até Ponte de Sor fomos de camioneta de carga, sento o resto do trajecto feito de comboio. Na capital fomos distribuídos por casas dos montargilenses ali residentes. No regresso, o mesmo transporte, sendo a camioneta, salvo erro propriedade de um senhor de nome Sapo.
Foram catorze Bandas a desfilar, partindo de sítios diferentes, mas quando o desfile terminou na Avenida da Liberdade, era a nossa Banda que levava mais gente a acompanhá-la, e à frente um cordão humano, dando-nos espaço .Pelo seu garbo---antes andaram a ensaiar o “marchar” com o prof. Evaristo Vieira—alguém perguntava, no final, se era a Banda da Marinha.
Mas a Banda cumpriu em paralelo outro programa, naturalmente elaborado por conterrâneos que lá viviam. Assim a Banda tocou frente ao SÉCULO e do DIÁRIO DE NOTÍCIAS (dois jornais de referência) e ainda do REPÚBLICA( o grande jornal da oposição).Mas ali ao lado ficava o DIÁRIO DA MANHÃ ( o jornal do Estado Novo) onde não tocaram. E cada um seguiu para as casas onde pernoitavam, mas depois do jantar deviam encontrar-se na então Federação Portuguesa de Cultura e Recreio, como aconteceu.
Indo por diferentes trajectos, os que passavam perto da Esquadra do Bairro Alto foram detidos e ouvidas algumas pessoas, vindo então a ordem de liberdade para todos. Muito gostaria hoje de ter o recorte do DIÁRIO DA MANHÃ que se referia à Música dos três Maneis, ou sejam Manuel Alves do Carmo, Manuel Moura e Manuel Matono.
A Banda também foi tocar à Secretaria do Benfica, à Rua Jardim do Regedor, e eu que era nos meus 12 anos um sportinguita fanático, recusei-me a beber água por um copo com o emblema do Clube anfitrião, que um dirigente amavelmente me estendia.
Diga-se entretanto, que a nossa Banda era muito boa “na rua”, a “marchar”, não tanto em músicas de concerto, talvez porque sendo excelentes as suas 1ªs partes havia um certa diferença dos restantes, ou porque a direcção de Alves do Carmo---um carpinteiro e um músico excepcional---não tivesse a devida preparação para o efeito.
Entre o repertório que se levou a Lisboa, contavam-se a Marcha de Portugal e a Marcha do Centenário, no final tocada em conjunto pelas 14 bandas presentes, o Hino de Lisboa e o Hino do Benfica.
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O único entretenimento da altura era a Música, por isso os ensaios tinham muita gente a assistir, e não havia falta de aprendizes, embora a “tocar à estante” nunca ou raramente ultrapassaram os trinta. É que as festas eram pagas e a verba dividida pelos executantes recebendo o maestro a dobrar. E quantos mais executantes fossem…..
Os festeiros não forneciam alimentação, pelo que cada um levava o respectivo lanche.
Quanto à Festa da Erra, a que acima nos referimos, era muito “falada” dada a realização das “Cavalhadas” em que participavam famosos cavaleiros de Coruche, vila que ali se deslocava em peso.
Ainda em 1947, a Música” foi a Ponte de Sor participar nas Festas de Nossa Senhora dos Prazeres, cujo dia principal era o 15 de Agosto. E aqui aconteceu um caso que “abalou” um tanto a Banda.
Pelo menos alguns, dormimos na pensão das Benvindas, de onde na altura desapareceram algumas peças de ouro, sendo acusados os três músicos que dormiram no quarto onde o ouro estava guardado. Foram chamados a depor, e salvo erro um deles esteve detido 24 horas. E o que muito nos chocou, especialmenta à minha mente de doze anos era o facto das donas da pensão insistiram que só eles podiam ter sido.
Meses depois foi preso o ladrão, que era de lá, e tinha feito outros roubos na mesma altura.
E porque estes pingos de memória já vão longos, referir apenas que a orquestra que se formava sempre que havia Teatro no Grémio, chegou a tocar no Circo CHEN, que aqui se instalou uma temporada não trazendo músicos privativos. O que aconteceu outras vezes em datas posteriores e com outros circos, era então o Fouchinha que organizava o grupo, e eu cheguei a ir lá tocar.
Lino Mendes