Artes Cénicas
Síntese da História do Teatro em Montrargil
Teremos que recuar à volta de 3 000 anos para encontrar as origens do Teatro, quando “a Sociedade transformou determinadas práticas rituais e religiosas em espectáculo dramático. Teatro que, na opinião de todos os especialistas tem as suas origens na religião. Aliás, e segundo Tomaz Ribas,” todo o ritual é uma expressão dramática “Depois, e enquanto no decorrer dos séculos a Sociedade se foi transformando, o mesmo aconteceu em relação ao teatro.
Quanto ao teatro português, foi seu fundador GIL VICENTE, que quando nasceu o primeiro filho de D. Manuel, que viria a ser conhecido por D.JoãoIII, compôs e representou a primeira peça teatral portuguesa: MONÓLOGO DO VAQUEIRO. Vestido de pastor, finge entrar no palácio para oferecer os modestos presentes do campo, ao novo príncipe e sua mãe.
E MONTARGIL também tem o seu lugar na História do Teatro, que uns rotulam de amador mas eu gosto mais de chamar de não profissional isto, porque amador carrega também consigo o rótulo de menor qualidade que nem sempre acontece.
Não há memória que por aqui se tenha feito teatro para além do que se fez na Sociedade Artística Montargilense, vulgo Grémio, mas via-se bom teatro. É o caso da Companhia Rafael de Oliveira, que aqui instalava(?) o seu Teatro Desmontável e apresentava peças como a “Rosa do Adro”, a “Morgadinha dos Canaviais”, sendo que a empresa Mariani que aqui vinha dar cinema trazia sempre também um grupo de artistas para igualmente apresentar teatro.
Quanto ao Teatro que se fazia no Grémio, então instalado na Rua de Santo António, onde mais tarde morou o casal Dr.Castro Fernandes e Prof.Castela Dias, mas ligando à Rua da Misericórdia, era criança mas tenho uma vaga memória.
Diz-nos o senhor Artur Bogalhão: Eu é que montei o palco, fixei as cadeiras, fiz a plateia da casa em papel quadriculado, passava ali o dia em vez de estar em casa a trabalhar como alfaiate.
Era a Custódia Mendes, que cantava que era uma maravilha, a Beatriz que começou no teatro a namorar o Joaquim António, com quem casou, o Zé Tomé, o Patacho, o Velhote, o Barão, o Salsinha, o Pele e Osso, e outros de que agora não me recordo.
Mas havia também um acto de variedades. Cantava também a Maria Manuela Fouxinha e os músicos eram o Manuel Barrela, em saxofone, o mestre Manuel Bábau, em Viola e o José Arlindo ainda tocou em trompete.
Entretanto, o Manuel Carlos disse-nos que o teatro apareceu em Montargil por necessidade de fazer sobreviver as “sociedades recreativas”, as entradas eram por isso pagas, pois as quotas eram pequenas e nem todos as podiam pagar. Quanto aos espectáculos constavam de uma comédia e de uma parte de variedades.
Era difícil apanhar raparigas, mesmo para os bailes, era preciso fazer convites e eram sempre acompanhadas pela mães.
Dos rapazes lembrava-se do Patacho, que tinha muito jeito, do António Nogueira, do Tiérico, e das raparigas lembrava-se de uma filha do Panga, salvo erro a Custódia que tinha muito jeito para cantar, lembrava-se da filhas do Barrela, principalmente a mais velha e da filha mais nova do José Raposo a Maria Fernanda, que depois casou com o Cavaco que era barbeiro e salvo erro natural de Castro Marim.
Como músico, o Manuel Carlos ainda foi com o teatro do Grémio pois tinham que arranjar um “grupo” para tocar nos intervalos, que para acompanhar as que cantavam bastava o Barrela (saxofone tenor). E o engraçado é que foram a Brotas e a Pavia e quem os acompanhou foi a Eugénia Lima que vinha muito às Noitinhas.
O ensaiador era o mestre Viterbo (carpinteiro) e o professor Vieira ia nos últimos ensaios para corrigir alguns erros de português. Sendo que não havia microfones e a luz era a “petromax”.
Curiosa a maneira como eram distribuídos os “papeis”, sendo o maior para o considerado melhor actor e assim sucessivamente.
Entretanto por falar em professor Evaristo Vieira, que era de Quadrazais, isto antes do Grémio, faziam-se muitas récitas na Escola, em que o teatro também entrava, com grande influência da esposa, professora Maria Augusta, que era da região de Águeda. Alguns alunos desse tempo, o Falcão que depois foi para Foros do Arrão, o Joaquim Vieira e o Abel (sapateiro). Eu, que fui também aluno do professor Vieira, ainda fui a um encontro de escolas a Ponte de Sor, onde a escola de Galveias, era seu professor Garibaldino de Andrade, brilhou com a história do “Tonecas no Barbeiro”.
O Teatro no Grémio aconteceu aí pelos finais dos anos 40 do século passado, entrando pelos anos 50.
Segue-se, nos anos sessenta, a fase do teatro da responsabilidade dos Escuteiros dirigidos pelo P.Pereira, um nome que não pode ser ignorado numa História do Teatro em Montargil. O próprio Grupo de Escuteiros tinha prestígio.
Algumas peças:”Os Dois Jovens Cativos”, “Calabare”, “O Vigéssimo”, “Os dois vizinhos boticários”. E diversos! ”Quadros Bíblicos”.
Alguns actores: Prates Miguel, António Maria Courinha, Óscar Lopes, António Manuel de Castro, José Artur Mendes, António Manuel Patrício, José Augusto Courinha, Jorge de Castro, José António Courinha, António José Courinha e José Teles.
Ainda há várias representações pelo então Grupo Cénico da Casa do Povo, mas normalmente com base em pequenos textos, alguns da autoria de António Séves da Junta de Ação Social, ou retirados do Mensário das Casa do Povo. Até que Alfredo Morais, que fora colocado na fábrica da HORTIL, se oferece para ensaiar uma peça de teatro, mas na véspera da apresentação, há um impedimento da parte dele, e a peça não pode ser estreada, o que nos leva a ensaiar pequenos textos até às tantas da madrugada.
Mais tarde, já no o pós 25 de Abril, encontrei Alfredo Morais que me confirma ter estado cá com o objectivo político-partidário, de lançar a confusão. Não me recordo se a dita peça chegou a ser representada.
Entretanto, mas não me recorda a data nem tenho elementos onde o possa constatar , esteve por cá Nunes Vidal (creio que já falecido) e que ao serviço da Junta Central das Casas do Povo vinha com o propósito de encenar uma peça, O AUTO DO BOTICÁRIO. Profundo conhecedor da matéria, ainda dirigiu uma ação de formação do nosso distrito, mas de uma tremenda exigência, para ele não havia teatro de amadores e teatro profissional, mas apenas teatro e em especial o protagonista não aguentou o grau de exigências e a peça não foi estreada.
Acontece entretanto o 25 de Abril, e MONTARGIL volta a ver bom teatro, algumas vezes através do Teatro O Semeador, hoje Teatro de Portalegre, mas muito especialmente pelo Centro Cultural de Évora, hoje CENDREV, e que Mário Barradas dirigia. Era um teatro virado para a revolução, para os direitos sociais, mas este grande amigo foi quem melhor encenou Brecht no nosso país, autor que afinal não fazia propaganda com os seus textos, antes fazia pensar.
E o Grupo MENSAGEM de Teatro é anunciado em Outubro de 74, durante um espectáculo que o Grupo de Teatro “Estudo” de Reguengo do Fetal aqui veio dar, numa oferta da FNAT. Peça: O AVEJÃO (de Raul Brandão). E bons grupos de amadores de teatro continuaram a visitara nossa terra, sendo que o nosso público, sabia ver, diziam-nos.
E o nosso Grupo deslocou-se a várias localidades nomeadamente MONFORTE, FRONTEIRA, ESCUSA (Marvão), SANTO ANTÓNIO DAS AREIAS, BROTAS, CALDAS DA RAINHA, PORTALEGRE( 3 vezes ) ELVAS, GALVEIAS ( algumas vezes) ARRONCHES, RIBEIRA DE NISA, REGUENGO (2 vezes), PÓVOA E MEADAS), PORTO, MATOZINHOS, VALONGO, ALEGRETE, GLÓRIA DO RIBATEJO( teatro de Fantoches), SANTO AMARO, PONTINHA, ÉVORA, VIANA DO ALENTEJO (teatro de fantoches) Santarém, e diversas atuações em Montargil.
Algumas peças apresentadas: Os Bons Vizinhos, O Saco das Nozes, Casa de Fantasmas e O Elefante Voador (todas em teatro de fantoches), em teatro declamado: Auto do Curandeiro (António Aleixo), O Doido e a Morte (Raul Brandão), O Farruncha, O Papagaio de Papel, As Leis Modernas, A Farsa de Mestre Pathelin, A Burra de Apolinário, Os dois Vizinhos Boticários, As Duas Bonecas.,O Rei Adeu (para a infância.). O último espetáculo antes da paragem, intitulou-se ”Contos, Histórias e Historietas” e constava de uma colagem de textos.
Na maioria das vezes o espectáculo era complementado pelos Jograis, pelo Rancho Folclórico e pelo saudoso “Grupo de Dança Moderna”. A deslocação era naturalmente em autocarro.
Em Matosinhos onde o nome de Montargil esteve durante uma semana afixado numa das principais vias da cidade, foi um sucesso. Foi o “1º Festival de Autores Portugueses” e o grupo partiu com um certo receio dado os excelentes grupos, Portalegre Universidade de Aveiro, também lá estavam, mas quando o espectáculo terminou na acolhedora Sala Estúdio, as dezenas de crianças que se encontravam nas bancadas.—era um espectáculo para a infância—correram a beijar os “atores”, surgiu logo um convite para o ano seguinte.
Em Santarém, durante uma Feira do Ribatejo, tivemos que adaptar O DOIDO E A MORTE a um palco descoberto e ao ar livre.
Durante este período, foram realizados dois Festivais de Teatro para a Infância aqui fazendo deslocar o que de melhor havia no país e em especial na região. Igualmente foi realizado um Festival de Marionetes.
Orientado por profissionais do Centro Cultural de Évora, teve uma primeira semana de trabalho intensivo que decorreu nas instalações da Casa do Povo da Ribeira de Nisa e do então FAOJ (Portalegre). Dois fins de semana posteriores foram dedicados a ateliers práticos no Garcia de Resende. E foi estimulante “dirigir” e “contracenar” com os atores profissionais da casa. As aulas foram ministradas por Mário Barradas (Diretor do Centro), pela dramaturgista Christine Zurbasch, por Luís Varela (Diretor da Escola de Teatro, e pelos actores Fernando Mora Ramos, Avelino Bento e Alice de Vasconcelos. Sendo ainda de referir a participação no último fim de semana prestada pelos actores Manuela Carlos e Rui Madeira.
Muito importante promovido pela Junta Central das Casas do Povo para o distrito de Portalegre, foi o “Curso para Animadores Teatrais (1977) Resumindo, diremos ainda, que para além de um trabalho devidamente estruturado, que foi da escolha do texto , passando por diversas fases como o levantamento do dispositivo cénico e o ensaio, com os seus respetivos encadeamentos. Os ateliers práticos foram dedicados à luminotécnica, à sonoplastia, à expressão corporal à dicção. E se desenvolvemos um pouco este ponto, é para que se tenha uma ideia das bases em que assenta um grupo de teatro.
Mais tarde, viemos a descobrir que afinal houve teatro antes da época do Tiérico, Patacho e companhia. Nessa altura com a participação do Viterbo
(que também ensaiava), do Manuel Cardoso, do Manuel Airoso (Manuel Augusto Lopes), do Fouxinha (Joaquim Mateus), da Julieta Pina (actualmente viúva do José Cardoso, sendo a Euterpe, irmã do Cardoso, a “benjamim” do Grupo, Que nos dizem, cantava muito bem.
Mas também o professor Luís fez teatro já nas Escolas Novas, e que hoje são as Escolas Velhas. Nome da peça: As_Diabruras de Gertrudes. Nome dos artistas, apenas há a recordação de que uma menina que gaguejava, não gaguejou a fazer a peça.
Diga-se também, que quando do primeiro teatro que se fez na Casa do Povo, era Presidente Joaquim Manuel Fernandes, pai do Lopes (já falecido) e do João Manuel, hoje a residir em Torres Novas. Alguns participantes: Olga, Marília, Salsinha, Lino e António Augusto (Pé Leve).
Mas angariando fundos para a construção do Salão Paroquial, fez-se também teatro na Garagem do Trinta, na hoje Rua 25 de Abril e então Rua do Norte.
Só participavam raparigas, que se vestiam de rapaz quando era necessário.
Para além de bailados e dos monólogos, peças apresentadas: “A Prima da América”(comédia),”Por causa do Gato”(comédia) e “As Duas Mães”(drama).
Participantes: Rosete Moura, Vitorinha (que também era ensaiadora), Narcisa Ferreira, Narcisa Freire, Simone Rascão, as irmãs Eufrásia, Benvinda e Maria Vitória Manassa,e a Maria Courinha.
Ainda vieram a fazer algumas récitas no Salão Paroquial, entretanto inaugurado, mas também com gente mais nova como a Maria Isaura e a Maria Beatriz.
E o que mais terá havido?
Lino Mendes